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Utilizadas na comunicação de uma forma geral – propagandas, quadrinhos, textos jornalisticos – , as chamadas Figuras de Linguagem aparecem com uma frequência bem mais evidente na Literatura, pois elas são um recurso que consiste em apresentar uma ideia através de palavras que consigam um maior grau de expressividade, como se fosse uma mensagem a ser decifrada ao longo de um texto, seja ele uma simples frase, um período ou até um parágrafo inteiro.

Muito utilizada nas questões de vestibulares do Brasil, as Figuras de Linguagem são um interessante item a ser estudado com maiores detalhes, pois facilita a compreensão do texto literário, especialmente o Gênero Lírico, visto que a poesia faz uso abundante delas sejam quais forem os períodos literários, mas nunca esquecendo que elas também podem aparecer na Prosa, ou seja, no Gênero Narrativo (romance, conto, crônica, novela) .

Resumindo, as Figuras de Linguagem são uma forma de expressão que consiste no emprego de palavras em sentido figurado, isto é, em sentido diferente daquele em que convencionalmente são empregadas, utilizando a chamada linguagem conotativa, ou seja, possui uma significação mais ampla que a linguagem usada de form objetiva.

# Denotação

Palavra com significação restrita ;

Vocábulo com sentido comum, de fácil identificação, normalmente dicionarizado ;

Palavra utilizada de modo objetivo ;

Linguagem exata, precisa, sem ambiguidades ;

# Conotação

Palavra com significação ampla, criada pelo contexto ;

Vocábulo com sentidos que apresentem valores ideológicos, sociais, culturais, emotivos, etc. ;

Palavra usada de forma subjetiva, criativa, artistica ;

Linguagem expressiva, com muitos sentidos diferentes ;

Observação .: Pode ocorrer simutaneamente a utilização de mais de uma Figura de Linguagem em uma frase, oração ou período, o que não impede seu entendimento. Todavia, como se trata de uma linguagem de ordem conotativa pode ser normal o aparecimento de duas ou mais figuras de linguagem em determnado trecho a ser observado, sem prejuízo para a compreensão das mesmas.

1. PRINCIPAIS FIGURAS DE LINGUAGEM

‘ ALITERAÇÃO : Apresenta repetições de sons consonantais mais comuns em versos, mas podendo também aparecer na prosa, embora tal fato seja raro.

– Ex .: […] Ficou esperando passarem assim por perto. Parada, pregada como as pedras de um porto. – (Rubem Braga) –

‘ ASSONÂNCIA : Tipo de figura que consiste em intensificar os sons vocálicos em determinados trechos de versos e estrofes na poesia, ou em frases ou períodos na prosa.

– Ex .: […] Falando no Centro Náutico Potengy aos aviadores do Jahu, Ivo Filho disse que estava diante do novo homem, do novo brasileiro. – (Câmara Cascudo) –

‘ ANÁFORA : Figura de Linguagem mais comum na poesia, ele se propõe a repetir uma ou mais palavras no início de diferentes versos ou frases, no caso da prosa.

– Ex .: […] E deixavam-me ver a nossa casa, a nossa família, as nossas festas. – (Machado de Assis) –

‘ ANTÍTESE : Consiste em colocar lado a lado termos opostos, mas sem uni-las em torno de uma ideia mais ampla. A Antítese é muito confundida com outra figura de linguagem, o Paradoxo, mas perceba como a Antítese apenas apresenta um contraste entre elementos, no entanto sem uni-los.

– Ex .: […] Olhávamos um para o outro, com as mãos seguras, falando de tudo e de nada, como dois namorados. – (Machado de Assis) –

‘ ASSÍNDETO : Figura que consiste na ausência de conjunções – normalmente, as aditivas – entre palavras da frase ou entre períodos. É o oposto de outra figura de linguagem, o Polissíndeto.

– Ex .: Embora quisesse, desejasse, sonhasse, ele se apressou ; e sumiu. – (Fernando Sabino) –

‘ CATACRESE : É uma figura que indica o uso impróprio de uma palavra ou expressão que não descreve com exatidão aquilo a que se refere, mas é aceita por não haver uma palavra mais apropriada ou por alguma palavra não se de uso comum. Também é tida como um tipo de “metáfora desgastada” visto que seu uso passou a integrar o vocabulário cotidiano.

– Ex .: Ele colocou dois dentes de alho na comida.

‘ HIPÉRBOLE : Consiste em expressar uma ideia com exagero proposital bastante evidente, atribuindo à situação empregada uma intensidade fora do normal.

– Ex .: Rios te correrão dos olhos, se chorares. Nuvens se tornarão mares, se notares. – (Olavo Bilac) –

‘ EUFEMISMO : Consiste no emprego de uma palavra ou expressão no lugar de outra palavra ou expressão considerada desagradável ou chocante para o interlocutor.

– Ex .: Faria o mesmo mil vezes se fosse necessário para conquistar seu amor de uma vez por todas. – (Marcos Rey)

‘ METÁFORA : É o emprego de uma palavra ou expressão com o significado de outra em vista de uma relação de semelhança entre ambas. É uma comparação que fica subentendida, ou seja, é sempre subjetiva, bem diferente da comparação convencional (como, igual a, similar a, como se, tal qual) . A metáfora possui um uso bem amplo e, em muitas ocasiões, pode expressar uma situação que apresenta uma carga simbólica muito forte.

– Ex .: Os subterrâneos da fome choram caldo de sopa. – (C. Drummond)

Com o passar do tempo, algumas metáforas podem se desgastar pelo uso frequente e acabam se tornando uma expressão tão repetida e vulgarizada a que pode ser dada o nome de “clichê” .

– Ex .: Aquele menino é um porco. (porco = sujeira)

‘ METONÍMIA : É a substituição de uma palavra por outra, quando existe uma relação lógica, uma proximidade de sentidos que permite essa troca. Esta é uma Figura de Linguagem que consegue uma grande variação no seu uso e ocorre em muitos casos devido a uma relação lógica de significado entre dois termos.

O Autor pela Obra – Ex .: Eles detestam ler Paulo Coelho. (os livros do autor Paulo Coelho)

A Causa pelo Efeito – Ex .: Ela diz que é alérgica ao cigarro. (o cigarro é a causa e a fumaça é o efeito. Pode-se ser alérgico à fumaça do cigarro, mas não a ele em si.)

O Continente (o que está fora) pelo Conteúdo – Ex .: A pessoa acabou bebendo um grande copo d’água devido à intensa sede. (o copo, sólido, representa a bebida, que é líquida)

A Marca pelo Produto – Ex .: Aquele jovem só gosta de Danone na hora do lanche. (danone = iogurte)

A Parte pelo Todo – Ex .: Não havia uma alma na praça. (alma = pessoa)

O Singular pelo Plural – Ex .: O brasileiro é um apaixonado pelo futebol. (brasileiro = os brasileiros)

‘ ONOMATOPÉIA : Representa um conjunto de fonemas usado para se aproximar de determinados sons ou ruídos, sejam eles humanos, animais ou de máquinas. Esses fonemas acabam se tornando palavras chamadas de “onomatopaicas” (como miau, tique-taque, zum-zum). Muitas vezes também a Onomatopeia acaba se confundindo com a Aliteração caso apareça em ênfase na sua repetição.

– Ex .: Blem… Blem… Blem… Cantam os chocalhos dos tristes bodes patriarcais. – (Ascenso Ferreira)

‘ PARADOXO (OU OXÍMORO) : É a figura de linguagem que consiste no emprego de palavras que, embora opostas quanto ao sentido, se fundem em um enunciado, uma ideia.

– Ex .: É um contentamento descontente, é dor que desatina sem doer. –  (Luis de Camões)

‘ POLISSÍNDETO : Repetição intencional de conjunções, muitas vezes relacionando o sentido das palavras ou orações de um período.

– Ex .: O menino resmunga, e chora, e esperneia, e grita, e maltrata. – (Aluísio Azevedo)

‘ PROSOPOPEIA (OU PERSONIFCAÇÃO) : Consiste em atribuir linguagem, sentimentos e ações próprios dos seres humanos a seres inanimados ou irracionais. Foi muito utilizada pelos autores na narrativa fantástica, além de ser muito utilizada na poesia.

– Ex .: […] Enquanto esta palavra me batia no ouvido, devolvia eu os olhos, ao longe, no horizonte misterioso. – (M. de Assis)

‘ SINESTESIA : É uma figura que resulta da junção de sensações humanas diferentes, utilizando para isto uma mistura dos sentidos humanos (olfato, audição, tato, paladas e visão).

– Ex .: Os olhos quentes daquela mulher me esperavam naquela noite. – (Aluísio Azevedo)

‘ HIPÉRBATO : Trata-se de uma inversão na ordem normal das palavras na oração ou da ordem das orações no período.

– Ex .: Estavam aqui, à espera do encontro, as gentis meninas. – (J. de Alencar) – “As gentis meninas estavam aqui à espera do encontro.”

‘ GRADAÇÃO : Indica uma sequência de palavras cujo significado vai sendo intensificado ou tornando-se mais fraco gradativamente.

– Ex .: De repente, um risco no céu, depois outros, milhares de riscos juntos. – (Graciliano Ramos)

‘ SILEPSE : Ocorre quando a concordância das palavras é feitas de acord com o sentido e não segundo as regras gramaticais da sintaxe, existindo três tipos de Elipse.

Silepse de Gênero – Ocorre quando a concordância é feita com o gênero da pessoa a qual um pronome se refere. – Ex .: Vossa Senhoria foi indicado para o conselho educacional.

Silepse de Número – Normalmente, esta figura ocorre trocando-se a concordância do singular pela do plural a partir da observação dos verbos. – Ex .: A multidão ficou ansiosa e saíram correndo para fora.

Silepse de Pessoa – Geralmente, seu uso está ligado a um falante em primeira pessoa que se inclui em um discurso em terceira pessoa. – Ex .: Os brasileiros somos pessoas dedicadas e honestas.

‘ ANTONOMÁSIA : É caracterizada pela substituição de um nome por outra expressão ou palavra que lembre alguma característica ou fato que, de alguma forma, venha a identificá-lo.

– Ex .: O rei do baião completaria em 2013 exatamente um século. –  (Jornal Diário de Pernambuco)

‘ ANADIPLOSE : Consiste em recuperar a palavra final de um verso no início do verso seguinte. Também é usado na prosa, mas de forma bem rara.

– Ex .: Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema. Iracema, a virgem dos lábios de mel […] . – (José de Alencar)